Categoria: surf

A minha paixão pelo surf deu origem ao Mar de Sal. Partilho aqui a minha experiência neste mundo de boas ondas.

Wavy Ocean: porque deves proteger os teus ouvidos no surf

WavyOcean earplugs para ouvidos de surfista

A expressão inglesa, na tradução literal, é ouvido de surfista. Em português, mesmo que não soe tão bem como surfer’s ear, é exatamente o que devemos proteger – a saúde dos nossos ouvidos. Se compramos fatos de neoprene quentes e usamos botas para aguentar o frio, devemos também entrar no mar com os ouvidos protegidos (inverno ou verão, diria eu). É a melhor forma de prevenir complicações mais sérias como uma potencial cirurgia.

Passar uma cirurgia é o cenário mais drástico. Felizmente existem opções no mercado como a Wavy Ocean. Há uns meses que recebi os meus earplugs para experimentar e quero aqui partilhar a minha experiência.

Ouvido de surfista, o que é e como se trata?

É uma lesão que acontece na parte interna do canal auditivo externo, sendo mais comum acontecer aos praticantes de desportos de água. Como passamos muito tempo na água, os ouvidos desprotegidos ficam constantemente molhados, expostos ao vento e ao frio, promovendo o aparecimento das exostoses. O nosso corpo é muito inteligente. De forma a proteger os ouvidos, ou seja, evitando que a água fria e o vento cheguem ou tenham impacto sobre a membrana do tímpano, vai criando sucessivas camadas ósseas que se depositam como osso neoformado – as tais exostoses.

Nestas situações, já mais avançadas, a cirurgia é a melhor opção. De qualquer forma, o melhor a fazer é procurar um otorrinologista e a prevenção.

Como prevenir o aparecimento da otite do surfista?

Como não queremos cirurgias aos ouvidos, até porque nos obriga a estar muitas semanas sem ir ao mar, usar earplugs ou gorros, são a solução.

A Wavy Ocean falou comigo há uns meses para experimentar os earplug que desenvolveram. Loïc Boisnard, o fundador da marca, é engenheiro com experiência na área da música e também conhecedor dos problemas da água na audição por praticar esqui aquático. Apaixonado por produtos de audição, dedicou-se à criação dos Wavy Ocean, um produto de qualidade para a proteção dos ouvidos sem bloquear a audição, o que acontece com tampões de ouvido mais clássicos.

A minha experiência

Recebi em poucos dias os meus earplugs. Vem com três pontas de tamanhos diferentes (S, M e L) e uma bolsa de silicone. Confesso que foi um pouco confuso perceber como colocar os earplugs, mas nada que as instruções não resolvessem. Fazem parte do meu kit surfista, já não entro no mar sem os Wavy Ocean. Não dou por eles, são confortáveis, consigo ouvir tudo perfeitamente e acima de tudo, evitar otites e outros problemas. Podem encomendar no site ou encontrar um revendedor local. Custam 39,95€ e tem garantia de dois anos. Recomendo! ★

wavy ocean earplugs ouvidos de surfista

Como iniciar no surf ou surfskate? (parte 2)

surfskate sunset

O surf e o skate andam de mãos dadas. Minto. O surf e o surfskate deslizam lado a lado. É mais isso. A grande vantagem do skate em comparação com o surf é a progressão, que é mais rápida. Só precisas do teu skate e de uma estrada. Não dependes nunca das condições do mar. Além disso, consegues praticar as manobras vezes sem conta. Resultado: fotos e vídeos com pinta para partilhares no teu Instagram. Então vamos lá, como iniciar no surfskate?

O precisas de ter ou saber antes de te meteres nesta aventura

Skate, Longboard ou Surfskate

Penso que é importante distinguir. Já andei de skate, longboard e surfskate e de longe que o meu preferido é o último, por razões óbvias. Se a tua intenção é melhorar o teu surf, ou se gostas da fluidez que um surfskate te permite, esta deve ser a tua escolha. Mas se queres downhills ou dançar sobre um skate, opta pelo longboard. O skate clássico, penso que não precisa de apresentações. Todos nós devemos ter tido um na nossa infância, mas confesso, nunca aprendi a fazer um ollie. Compreende primeiro o que queres fazer e aprender para depois escolheres o skate certo.

Fazer parte de uma comunidade

Praticar surfskate abre-te portas a uma comunidade de miúdos e graúdos apaixonados por surf e skate. Vais simplesmente conhecer, sem grande esforço, pessoas com uma energia muito positiva e vibrante. A meu ver, é uma das maiores vantagens do surfskate. Ganhas um apoio incontestável, a torcer sempre por ti.

Cair, faz parte!

Aprender a andar de skate não tem a mesma dificuldade que o surf, na medida em que não dependes do swell para aproveitar. Uma boa estrada e tempo seco garantem momentos de diversão sobre o skate. No entanto, como qualquer outra prática desportiva ou atividade, há que ter cuidado. As quedas acontecem, mesmo com experiência. Por isso, é fundamental usar capacete, e eu diria proteções nos pulsos e joelhos. Das quedas que tenho visto e as que tive, as mãos vão quase sempre primeiro ao chão. E não vale a pena arriscar lesões maiores.

Os surfskates não são baratos

Existem várias marcas de surfskate. Eu recomendo os da Carver Skateboards. Não são propriamente acessíveis, e é dificil encontrá-los em segunda mão. Compreendo, porque quem tem um Carver vicia. Mas o interesse pelo surfskate tem crescido ao longo dos anos, e com isso, vejo o boom de muitas outras marcas e igualmente boas: YOW Surf Skateboards, Slide, Smoothstar, SwellTech, entre outros.

 

 

Como iniciar no surf ou surfskate? (parte 1)

Nunca é tarde para começar ou não há uma determinada idade para arriscar numa nova aventura. Iniciar no surf ou no surfskate é simplesmente uma questão de vontade. As dúvidas que todos temos ao começar; que te motivem a entrar nesta onda.

Se começarmos em criança a praticar estas modalidades, obviamente que não teremos tantas perguntas na vida adulta. Torna-se natural, parte da rotina. A meu ver, a grande vantagem de começar a surfar ou a andar de skate em criança, é pelo facto de ter um baixo centro de gravidade. O medo de cair é relativo. Não que eu seja particularmente alta, mas estar no topo da onda e decidir fazer o drop ou estar na berma do bowl e atirar-me com o Carver em vertical – dá medo. Sejamos realistas. Mas isso não me impediu de experimentar ou de querer levar esta vida ligada às boas ondas.

Como iniciar no surf? Quais os primeiros passos?

Saber nadar e gostar do mar

O surf pede, em primeiro lugar, algo muito simples – saber nadar, em especial no mar. Eu sempre fui peixe, andei natação desde pequena. Nadar e mergulhar no mar sempre me fez sentir em casa. É senso comum, mas é preciso perceber que o mar não é sempre como no verão, com ondas pequenas e divertidas. Tem correntes, tem mudanças de humor (marés) ao longo das horas, e pede o que vem a seguir…

Capacidade física e resistência

Depois, vamos à parte do teu nível de fitness. Mesmo para alguém ativo, o surf pede um bom pulmão e uma boa remada. Ainda hoje sinto que é um desafio, em particular, por passar meses longe do mar, logo torna-se complicado ter a resistência necessária. O truque é surfar sempre que possível, o mais tempo possível. Eu tento compensar com desporto fora de água e hoje já temos vários treinos disponíveis para ganhar ou manter capacidade física para o surf. Deixo aqui a referência às aulas do Surfset Portugal.

Aulas de surf sim

Se fizeste um check às duas primeiras etapas, inscrever-te numa escola de surf é o passo a seguir. Eu iniciei o surf com amigos. O que significou entrar em mar não adequado à minha experiência e com pranchas erradas. Eu sou apologista das aulas, como já partilhei antes. São a melhor forma de ganhar confiança e corrigir logo de início a postura a ter tanto na remada como na prancha.

Capacidade de investimento

O surf hoje já se está a tornar mais acessível, ainda assim é um desporto que pede capacidade investimento inicial tanto para a prancha, como para o fato de surf e outros acessórios que se tornam essenciais (poncho para trocar de roupa no estacionamento). Mas como dizia, a indústria do surf cresceu e facilmente encontramos alternativas mais acessíveis, importantes para estas primeiras compras. O meu conselho é este: há pranchas lindas, queremos as de performance, a de design minimalista, de um determinado shaper – mas para primeiras ondas, não compensa. A minha primeira prancha é uma NO LOGO, qualidade-preço recomendado.

Supera os teus bloqueios

Não menos importante, é parte psicológica. O que me reteve para iniciar mais cedo no surf? Primeiro, o medo. Depois, a vergonha. Medo de cair, de me magoar, de ser arrastada para o fundo do mar ou levada por correntes. Depois, a vergonha de não ter jeito para aquilo, de já começar tarde (aos 30), e de me meter no lineup com pros e eu ali, com a minha prancha iniciante a tentar dar o melhor. É tudo uma questão de atitude. Há que lembrar que todos tiveram de passar pelo processo de começar: primeiras espumas, primeiras paredes de ondas, primeiros drops. O que eu aprendi é que cair faz parte bem como ser enrolada pelas ondas.

Para uma atitude mais confiante no surf, eu visto esta lycra: faço isto porque me diverte e não importa o que os outros possam pensar sobre o meu estilo, porque o surf deixa-me com um sorriso na alma.

Como o meu primo me diz, “não é a água com açúcar que acalma, é a água com sal” (até porque a vida sem sal que nos enferruja). Espero que estas palavras te ajudem. Vou deixar na segunda parte do artigo as dicas para começares no surfskate.

Encontro-te no outside? 

#wavestories: quando estás meses sem ver o mar

Photo by Marina Maliutina on Unsplash

Para alguns é sacrifício não comer o que se gosta ou a ausência de contacto físico. Para outros, eu incluída, sacrifício é viver sem o mar. Estar meses sem ver o mar, sentir o mar. Quis a vida enviar-me para os Alpes há quase três anos. A coisa até corria relativamente bem, com uma média de viagens a Portugal a cada três meses, mas nada controlamos nesta vida, e aqui estou, presa às montanhas. Sabe-se lá até quando.

Podia fugir. Clandestinamente. Até me vejo nessa aventura. De atravessar as fronteiras à boleia escondida atrás de hoodie e mochila às costas. Mas sou responsável pela minha vida, pela saúde e consequentemente de todos com quem possa interagir. Confesso que me custa, muito mesmo, não saber o quando. Quando é que irei voltar para ti, meu mar.

Não há muito a fazer. Há que aguentar o que se pode, e quando já não der para mais, aguentar à mesma. A vida é mesmo assim.

A última vez que pus os pés no mar foi em Dezembro, na praia da Torre. Tive azar no Natal, levei com a tempestade, o mar esteve revolto nos dez dias que estive por casa e só tive coragem de entrar naquelas pequenas ondas da Torre. A ausência de mar tem aumentado substancialmente o meu medo. Não me sinto de todo confortável na água. Não confio na minha capacidade física para remar. Basta sentir uma rebentação mais forte que desisto de ali estar.

Nestes dias, longe, nestes dias em que aguento mesmo quando já não dá para mais, entro nesta dicotomia do medo e da insistência. Por que raios desisto quando tenho? Porque não insisto em aguentar mais um bocado pelos tempos em que não consigo? Penso saber a resposta. Nesses momentos em que considero que “isto é demasiado para mim“, em que sou assoberbada pela minha realidade, fico grata por ter pelo menos tentado. É que ninguém vive no futuro, só no momento presente. E naquele momento, jamais penso que não te irei ver, meu mar, durante meses a fio sem previsão de voltar. Por isso, o que faz sentido aqui e agora, não faz neste instante que já é o futuro. Vivemos de escolhas conscientes. Decisões que temos de acartar a responsabilidade. E a de sair do mar quando tenho a oportunidade de lá estar é sinal de que a esperança de voltar é sempre muito grande. Como aquilo de dar a vida por garantida.

Afinal nem contigo, meu mar, as coisas são simples assim.

#wavestories: ser apaixonada por surf e não ter grande jeito para a coisa

Não sei quando é nasceu esta paixão pelo surf. A verdade é que muito antes de me meter pelo mar adentro, já tinha um certo fascínio pelo desporto. Talvez pelos miúdos giros na praia de Carcavelos, talvez pelo lado descontraído que lhes desenhava a alma, talvez por (ainda) achar que surf é uma dança no mar. Atiro um último talvez, o de me ter apaixonado de verdade no momento em que deslizei pela primeira espuma.

Só que gostar não é suficiente para saber surfar. Temos de entrar em todo o tipo de mar, apanhar todo o tipo de ondas, experiementar pranchas, observar com intensidade onde a onda se forma e vai rebentar, para fazer perceber o que é isto de surfar. Daí as perguntas: já te sentes confortável o suficiente para dizeres que sabes surfar? Não. E achas que tens jeito para a coisa? Também não. Mas isso não invalida o facto de eu ser apaixonada pelo mar e querer continuamente melhorar.

Ter receio de algo é humano, mas ao não sair da nossa zona de conforto, não aprendemos, não evoluimos. E isto serve para qualquer área da nossa vida. No surf, por termos de lidar com o mar, há este medo inerente às ondas, às correntes que nos arrastam e ainda a falta de confiança que nos retrai. O que é natural, mas não nos ajuda a dizer adoro surfar com a convicção de que o sabemos fazer com mais ou menos jeito. Com tempo e persistência, isto vai lá.

Não nascemos todos Kelly Slater ou John John Florence. Mas se temos vontade, devemos sempre ir surfar quando a oportunidade bater à porta, ter aulas, ver vídeos — nossos e dos outros, ler sobre a área para nos sentirmos ao nível que achamos ter (juro que acho que surfo muito melhor do que os outros acham). Se alguém pelo caminho nos disser, não tens grande estilo ou jeito para o surf, é só conversa. Garanto que tudo na vida, que venha do coração, da vontade imensa de chegar longe, é talento inato. E isso, ninguém nos tira.

#positivevibes

Aulas de surf: sim ou não?

Se nunca tentaste surfar, a resposta é positiva. Se és daquelas pessoas que sempre quis experimentar mas nunca arriscou, a resposta também é positiva. Se entras no grupo de quem já rema por esse mar adentro sem receio, a resposta também é positiva. Aulas de surf: sim!

Fiz essa pergunta várias vezes, será que preciso de marcar umas aulas de surf? Mas como qualquer outro desporto ou atividade na vida, as aulas são vitais para ganhar confiança, conhecimento, e em especial no surf, pela dificuldade de saber ler o mar, pela correção postural, pelo incentivo constante e obviamente, pela comunidade e amigos que nascem na convivência – acabamos todos por perceber que a paixão do surf nos une irremediavelmente.

Já aqui partilhei momentos mais complicados que o surf me proporcionou, correntes inexplicáveis, agueiros traiçoeiros, pranchas que quebram cabeças, mas nada disto eu teria superado nas calmas sem as aulas de surf. Felizmente, hoje, temos muita oferta, escolas de norte a sul do país, umas mais profissionais do que outras, mas a verdade que para principiantes eles têm a melhor estrutura que possas precisar para as primeiras espumas.

Os benefícos das aulas de surf

Desde a prancha, ao fato a professores (giros, cof cof) prontos a empurrar pelas espumas, torna-se muito mais fácil aprender. E a ganhar confiança. Eles explicam para onde ir, para onde olhar, quando levantar. O melhor de tudo é ter direito a expressões de incentivo, ainda que por vezes em tom de gozo — já estás a levar nas orelhas, que na verdade resultam no empurrão que precisamos para enfrentar a onda sem ajuda e com toda a certeza de que a vamos cortar.

Confesso que comecei ao contrário. Primeiro experimentei sozinha, com pranchas emprestadas, sem perceber muito bem o que fazer. Depois lá resolvi inscrever-me na Lufi Surf School e dominar a Costa da Caparica. Fiz 10 aulas. No meu caso foi suficiente para passar a ir sozinha para as espumas, para as primeiras ondas e depois meter-me em aulas intermediárias com o Ricardo Pina (tem agora uma surfhouse em São João, a Lisbon Surf Villa e continua a dar aulas) que me fez atrever a surfar qualquer mar sob as suas ordens sempre didáticas – aquele rema, rema, rema agora, inesquecível.

Ainda que não tenha fotografias, apenas as gravadas na memória, estive recentemente por Lisboa e regressei às aulas, desta vez com o Filipe da Go Surf Lisboa. Tenho outra maturidade ao entrar no mar, ainda me falta muita confiança para me fazer à onda, no entanto, foram-me feitas correções, vicíos digamos, que fizeram toda a diferença na onda a seguir.

O resultado é que me senti sempre melhor depois de umas aulas, porque percebo onde erro, e esta consciência faz-me evoluir, querer ser, na verdade, melhor. Portanto, eu sou apologista e defensora das aulas porque:

  1. Dão confiança.
  2. Ensinam a interpretar o mar.
  3. Vais perceber facilmente quando é que é o momento certo para o pop-up.
  4. Ensinam coisas básicas como cuidar da prancha, enrolar o leash, a lavar o fato.
  5. Motivam-nos a continuar.

Não importa o nosso nível no surf. As aulas devem ser feitas por todos que querem ser melhores, e para isso é preciso ter a humildade de reconhecer que “eu posso aprender”.

#wavestories: o porquê do surf na minha vida

#wavestories: o porquê do surf na minha vida

*episódio piloto*

A verdade é simples, eu comecei a surfar por causa de um desgosto de amor. Este foi o porquê do surf na minha vida.

Sempre o escrevi aqui no Mar de Sal, que a minha ligação a água não começou com o surf, mas antes com o ski na barragem de Montargil. Um dia, deixei de ter este prazer que me fazia esquecer o mundo e querer deslizar na água. Tive de o substituir pelo surf, depois de um final de verão amargo para experimentar o pela primeira vez.

A aula foi uma surpresa, que até hoje sou grata por a ter tido, na praia do Guincho. Tinha a alma lavada em tristeza quando me enfiaram na água. Uma prima teve a ideia de me oferecer a aula para me animar o espírito. Talvez, inconscientemente, tenha sempre deixado a impressão de que gostaria de surfar. Um dia.

Esse dia chegou. Estou e sou feliz por ter descoberto no surf um aliado às boas energias, aos bons pensamentos e à capacidade que o mar tem de nos fazer esquecer as amarguras. No mar não há espaço para lágrimas.

O ski deu-me preparação para o equilíbrio em cima da prancha, foi tão fácil perceber como fazer para me levantar e deixar-me ir. A parte complicada era ter força nos braços (ainda hoje luto por essa agilidade), com jeitinho lá o professor me empurrava nas espumas. Nada como um sorriso para desencantar oportunidades. A sensação foi incrível, não a consigo descrever. Juro que me faltam palavras. Tão incrível que até hoje resiste. Persiste.

Isto foi anos antes de levar o surf mais a sério. Guardei esse dia, e acabei por deixar passar demasiado tempo até regressar. O que me fez voltar a experimentar foi a lista de resoluções do ano novo. Meti na cabeça que o surf e o yoga iam fazer parte da minha vida. Sem mais demoras, nos primeiros dias do ano, inscrevi-me na Lufi Surf School, na Costa da Caparica e religiosamente lá me apresentava aos fins de semana. Era janeiro. Quando me meto nalguma aventura, dedico-me. E com o surf não ia ser diferente. Não quis saber do frio, do mar grande, dos perigos, do cansaço. do sal nos olhos. A única coisa que queria era surfar. E esquecer os desencantos da vida.

Faz agora à volta de quatro anos e meio que me meti nisto. Como consequência, a minha escrita passou também a ser sobre as minhas experiência de mar, de vida, sempre de mãos dadas.Tudo por causa de um desgosto de amor que no final de contas, só teve importância porque me fez surfar. Ah, vida sábia.

#wavestories o começo das histórias do mar

Quando comecei a escrever no Mar de Sal, a ideia era ter um lugar de inspiração. De mar, de surf, de yoga, de boa vida e sustentabilidade. Mas também um espaço para histórias de sal.

Mudar-me para a Suíça afastou-me do propósito da escrita. Sinto que por estar longe do mar, não serei autêntica a partilhar momentos. No entanto, sou feita de memórias e estas estão bem encravadas nas células que me fazem viver.

Não me comprometo com nada nem ninguém. Quero apenas começar a partilhar a série #wavestories. Momentos da vida de mar vividos por mim, por terceiros. Por paixão ao mar, por paixão à escrita. Porque sem nenhum dos dois a minha vida faz sentido e estou a precisar de lhe dar ondulação.

Aceitas entrar neste mar? É fácil, subscreve à minha newsletter ou então, não te esqueças de passar por aqui para me leres.

Para o ano há que surfar mais ainda

A última vez que vim a casa, em Outubro, fui brindada pela mãe natureza com o furacão Ofélia. Estive 10m dentro de água, provavelmente menos. Mas pelo menos senti de novo a pele salgada, e consequentemente, energias renovadas. Aqui estou, meses depois, para descansar em casa e aproveitar os bons dias de dezembro de maresias mais suaves.

Não é fácil remar. O meu corpo já não está habituado ao movimento e tendo tido bronquite asmática no último mês, faz com que o meu regresso seja para lá de vagaroso. Mas tenho de ter paciência e respeitar acima de tudo o meu corpo. Dar-lhe tempo para reagir ao surf. Dormir, alimentar-me bem, frequentar as aulas de yoga e recuperar da melhor forma.

Tenho ido até à praia de Carcavelos nestes dias. O mar tem estado pequeno, o sol tem sido generoso, e ali fico sentada a contemplar o lado bom da vida. Se há uns meses vingavam ondas grandes e potentes, agora dançam os pequenos swells que acalmam a alma. Assim se faz a vida, de um ciclo para outro, pedindo sempre humildade em aceitar o que o mar nos traz.

Esta corrente leva-me a pensar no meu 2017. Surfar muito foi um dos objectivos que estabeleci. Por isso, enquanto aqui estou – até regressar aos Alpes – vou pegar na prancha e cumprir o máximo desta missão. Porque para o ano, der por onde der, há que surfar ainda mais.

O surf é compromisso para o resto da vida

Sinceramente não sei como vou voltar ao surf depois destes meses sem entrar no mar. Alguma dica? Lembro-me de um amigo dizer, num tom frustrado, que voltava sempre à estaca zero depois de estar uma temporada sem salgar o corpo.

Eu comprometi-me com o surf como uma relação para a vida, com marés altas, marés baixas, meia goofy ou regular. O que interessa é que hei-de sempre, nalgum momento, entrar por mar adentro com a minha prancha e aproveitar a harmonia que a mãe natureza me dá.

Só que não sei como me vou sentir quando me deparar com o swell… como vai ser este reencontro. Conhecendo-me como me conheço, o mais provável é petrificar uns instantes. Já sei, é não pensar tanto no assunto e deixar-me ir na altura, de sorriso na alma, e entregar-me com toda a paixão e motivação que possa ter. Será o melhor cenário, e o meu foco também para os longos meses de inverno que se avizinham.

Dylan Graves disse um dia que as melhores ondas coincidem sempre com algo importante na nossa vida. É isso que sinto agora à distância quando tenho o telemóvel aos apitos na partilha das ondas do dia. É isso que sinto cada vez que não posso pegar no carro e seguir estrada fora até uma praia qualquer à volta de Lisboa para descobrir aquela onda sorridente na minha direção. Há sempre algo mais importante que me me impede de ter esse momento. Estranha vida a minha. Quando assumi este compromisso com o surf, nunca pensei que ficar longe do mar fosse opção… Vi-me unida ao surf, e com ele, para sempre, por perto. Só que não. Aqui estou. Longe quando o mais importante era estar presente. Porque estava a evoluir, a querer mais, a vencer o medo, a ganhar resistência. Apanhada neste agueiro só me resta remar paralelamente até conseguir sair, nas calmas. Porque como disse, estou de caso sério com o surf. E será para o resto da minha vida.