Categoria: takeoff

O takeoff é importante no surf, mas também quando pego na mochila e vou conhecer o mundo. As minhas viagens, dicas e experiências para te inspirar.

Açores: liberdade em pleno oceano

Açores: Liberdade em Pleno Oceano by Mar de Sal

Pode soar a cliché, mas foi o que senti ao visitar os Açores. Liberdade em pleno oceano. Como estava por Lisboa, foi fácil comprar um voo de última hora para São Miguel. Gosto disto; de não planear muito e deixar-me ir. Acho que ajudou a sentir ainda mais esta liberdade de explorar as paisagens intactas e serenas em pleno oceano.

Não fui de mochila, mas fui minimalista a fazer a mala. Sendo dezembro, era importante levar o impermeável e biquíni velho (sim, tem de ser velho) para me enfiar nas águas quentes termais. Não fiquei hospedada em nenhum hotel, a Inês – a minha amiga desde sempre – vive nos Açores. Tive, por isso, direito a guia privada durante 4 dias por São Miguel. A grande vantagem de conhecer o destino com um local é que não te perdes e nem perdes tempo à procura dos lugares a visitar.

Aterrei de noite, nem vi a pista. Ao sair do aeroporto, caiu-me na memória Bali. Aquela humidade de estares no meio do oceano. O frio que se fazia sentir em Lisboa, ali se esvaneceu. Palmeiras e ar tropical, foram estas as primeiras vibrações. Rasguei um sorriso, cheio de vontade.

Roteiro de Chás e Paisagens Encobertas

Chá Gorreana Açores © Mar de Sal

De manhã, no primeiro dia, o céu estava demasiado encoberto. Espreitámos as câmeras de todos os pontos a visitar, e esta é uma dica indispensável, tens de o fazer. Se vês as câmaras da praia antes de ires surfar, faz o mesmo quando se trata de visitar a Lagoa das Sete Cidades e outros pontos imperdíveis. E, sendo uma ilha, temos de compreender que a volatilidade do tempo é enorme. Acho que tive várias estacões, várias vezes ao dia. Levar isto na boa porque quem comanda é a mãe natureza e siga lá aceitar o que ela nos quer dar. A Inês disse-me, não vais embora sem ter um vista deslumbrante sobre a Lagoa das Sete Cidades. Já lá voltamos.

Pegámos no carro e fomos visitar a Fábrica de Chá de Porto Formoso e a Gorreana. Pelo caminho, mar sempre à volta, estradas boas, estradas com vacas, campos verdejantes, paisagens incríveis, luxuosamente naturais. Por momentos, tive a estranha sensação de estar na Suíça, mas com mar. Digo isto pela perfeição da natureza, um enquadramento que nos que nos faz questionar Photoshop ou real? Maravilhosamente maravilhoso para não ser real.

Isto de viajar em tempos de pandemia até nos traz episódios caricatos, como não ser permitido visitar a fábrica de chá por questões de segurança, e sermos convidadas a sentar na sala a ver um vídeo que até está alojado no YouTube. Preferi sentar-me à mesa e experimentar o chá com biscoitos. Afinal, era esse o objetivo.

Seguimos ainda até à Lagoa de São Brás, no concelho de Ribeira Grande. Desci até à lagoa. Estive provavelmente ali sozinha durante uns vinte minutos. Minto. Acompanharam-me patos, vacas e outros animais que me deixaram confusa, mas chamemos-lhes de aves. Pedi-lhes colaboração nas selfies, ia levando uma bicada. Digamos que não são muito recetivos a estas tecnologias. O silêncio perdido nos sons do vento, do cintilar da água da lagoa, sobreposto ao mugir das vacas, deixou-me em estado meditativo sem culpa. Gosto deste simples prazer de sentir o mundo tal como ele é. Aquilo de apreciar o momento.

Dali seguimos até ao Miradouro de Santa Iria, com paragens provocadas pelas vacas. Se há algo que me intrigou nos Açores foi a falta de animais exóticos. Tinha esta ideia de que, por ser uma ilha vulcânica, rica em flora, a fauna seria no mínimo mais tropical. Mas não. Cavalos, vacas, cabritas e as tais aves. O vento entrou, desarrumou o cabelo e as fotografias sairam tremidas. Mas ainda bem que se meteu no meio do miradouro porque limpou a neblina, e lá me deixou vislumbrar o imperioso Atlântico a embater neste pedaço de terra decidido a erguer-se sobre o mar de sal.

Uau a tempo inteiro

Lagoa do Fogo © Mar de Sal

Confesso. Tudo para mim era momento uau. Isto de não ter expectativas em relação a algo faz-nos maravilhar facilmente. Talvez fizesse sentido aplicar este estado a mais momentos da vida. A Inês, sabendo que eu gosto de explorar, deixou-me caminhar até um riacho entre floresta verdejante e, de novo, silenciosa. Eu fico encantada com o silêncio. A natureza em pleno descanso, limitando-se apenas a ser. Não anotei o nome e falha-me agora a memória. Só que não há coincidências. Talvez a falta de lembrança serve para manter em segredo esta pequena aventura. De regresso ao carro, metemo-nos estrada fora para chegar lá cima ao miradouro da Lagoa do Fogo. Uau. Sim, de novo. Tive vontade de voar por ali, contornar a silhueta quieta da lagoa, indiferente ao mar que lhe tenta chegar. A fotografia ficou-me na memória.

Biquíni velho, mas não fui à Caldeira Velha

Parque Terra Nostra © Mar de Sal

A vantagem de ter uma amiga a viver nos Açores é que te dá dicas vitais: traz um biquíni velho. Dei-lhe ouvidos e ainda bem. Não por causa da Caldeira Velha, que por recomendação da minha Guia (olha o trocadilho Inês), não fui até lá. A aventura foi antes descobrir que o cheiro de enxofre é terrível. Isto nas Furnas. Cheira mesmo mal, mas disse-me a minha avó que foi onde provou um dos melhores cozidos à portuguesa. Troquei o cozido por um hamburger e batatas fritas. Isto de ser millennial

Estava ansiosa por chegar ao tão falado Parque Terra Nostra para finalmente dar uso ao biquíni velho. E com toda a razão. São 12,5 hectares de jardim botânico, com inúmeras árvores e plantas, que confesso, nunca ter visto. Gostei do passeio pelo parque, dos meus pedidos foto à influencer que tive o privilégio de tirar. Aliás, todo o parque é verdadeiramente instagramável, inclusivamente, a minha cara ao pisar a viscosidade na piscina de água quente termal. Primeiro, não se vê o fundo. Segundo, a água tem um aspeto de barro (daí o biquíni velho). Claro que me recusei de voltar a colocar os pés no fundo. Nestas coisas, até acho sorte contar apenas com 1,60m de existência. Não foi preciso muito esforço para perceber que o melhor era flutuar e nadar. Vem-me à memória as gargalhadas da Inês pelo meu ar de pânico o que é isto que estou a pisar?!. Na verdade, o que importa no meio daquilo tudo – que ainda não sei o que pisei – é que repus as minhas energias na água a 38º graus. Terapia. Logo a seguir, meti-me nas pequenas piscinas adjacentes com hidromassagem. Tão melhor e sem fundo, gelatina.

Baleias à vista, por do sol de perder a vista

Açores: Liberdade em Pleno Oceano by Mar de Sal

Fiquei sem ver as baleias no meu último dia. Queria muito. Infelizmente, o mar estava demasiado agitado e não houve embarcações a sair. A alternativa era continuar a explorar a ilha e dar de caras, sem querer, com o pôr do sol mais que tudo a que já tive direito nesta vida. Quem me segue no Instagram sabe que ando sempre à caça de pores-do-sol com a fatídica hashtag #foreverchasingsunsets. Fiquei ali, durante muito tempo, presente. A sentir aquela energia. Foi destino ali chegar porque quis o GPS mudar de rota e ainda bem. Só depois é que chegámos à Ferraria. O mar, como disse, não quis colaborar nesse dia. Estava demasiado bruto. Tive pena de não experimentar este banho de água quente, provocado pelos vapores vulcânicos, que se mistura com a água fria do mar. O truque é esperar pelas meias marés para sentir a temperatura certa. Quando muito vazia, dizem ser quente demais. A rebentação forte rompia pela pequena enseada, e havendo pouca luz, preferimos não arriscar.

Mas antes de me perder nisto tudo, tive que finalmente encontrar, a Lagoa das Setes Cidades. O tempo tramou todas as tentativas, mas esta era a última hipótese. Chovia. A câmara evidenciava o inevitável: céu muito encoberto. Arriscámos à mesma e pedimos à mãe natureza uma pequena colaboração. Acho que nos ouviu. Mais ou menos.

Atravessei o parque até ao Miradouro Grota do Inferno. Talvez a vantagem de viajar fora de época. Caminhei uns 15 minutos numa ampla estrada de pedrinhas cravadas até encontrar o trilho que leva ao acalmado miradouro. Tem, sem sobra de dúvida, a vista mais deslumbrante para a Lagoa das Sete Cidades. Já no trilho exalei um oh desanimado, pelo manto de neblina que cobria a vista. Dois segundos depois, uau, o vento limpou e consegui ter um momento sobre a paisagem. Voltou a tapar e eu voltei a exalar um oh, seguido de um uau porque o vento decidiu dar de novo uma limpeza ao nevoeiro. A natureza a brincar às escondidas… Felizmente, perdi a vista, vezes sem conta, e nos melhores fragmentos do tempo, tive o privilégio de vivenciar um dos lugares mais bonitos de sempre.

O que é bom é para se viver e comer também. Fechei a viagem com uma última paragem no Bar Caloura, onde me rendi às lapas açorianas, um delicioso camarão frito e uma experiência por peixes frescos grelhados. De fazer crescer água na boca. A cereja no topo do bolo, neste caso, a sobremesa envolvia duas palavras mágicas, chocolate e manteiga de amendoim.

Sim. Estou deslumbrada pelos Açores. E só conheci São Miguel. A próxima etapa é pegar mesmo a mochila e saltar entre as ilhas do arquipélago. Ver o nascer do sol no Pico e conhecer a ilha das Flores. Que assim seja, em breve. Tudo para nunca deixar de ser livre em pleno oceano. Palavra de sal, Mar de Sal.

Um obrigada especial à minha Inês por esta aventura.

Introdução ao hiking: o escape à falta de mar

Introdução ao hiking - Mar de Sal

Se antes passava a maioria dos meus dias no mar, agora tenho como cenário de fundo as montanhas. Confesso que fui até lá  mais vezes durante o inverno, também é mais longo, naturalmente, mas a verdade é que os Alpes são um lugar de passagem obrigatório. Eis a minha introdução ao hiking.

Para ser sincera, lá em cima, logo ali nos primeiros instantes com que me cruzo com a cordilheira alpina, torno-me humildemente pequena. É impossível não por os pensamentos em causa perante a mãe terra. E considero isto uma magia a ser vivida e aproveitada sempre que possível. É aqui que entra o hiking como um escape à falta de mar, de praia.

Sempre liguei o hiking ao passeio, atividade vá, para ser mais justa, dar uma volta a pé para os mais velhos. Mas a necessidade de estar perto da natureza fala mais alto. Sempre gostei de desbravar terra, tanto na secura de Montargil como no sudoeste alentejano, e no meio da verdejante paisagem helvética. O melhor então é deixar os preconceitos à parte e a partir à aventura.

Fronalpstock

A chegada a Fronsalpsptock

No ano passado, por esta altura, meti-me a caminho de Fronalpstock, no cantão de Schwyz. A ideia era subir de teleférico à volta de 1900 metros acima da altitude do mar para um primeiro pico. Dali até ao destino final seriam cerca de 3 horas de caminhada. Tivemos sorte, o tempo estava maravilhoso. Fui de calças de ganga e de ténis, erro de principiante, é preciso como tudo que envolva actividade física roupa indicada, em especial o calçado. Definitivamente há que ter botas de montanha.

Entre pedras, lama, escadarias, subidas e descidas estreitas, houve de tudo um pouco. Em certos momentos, o caminho era tão estreito, rochoso, que olhar para baixo era má opção mesmo não tendo medo das alturas. No entanto, confesso que a altitude e a caminhada mexeram com a minha respiração, o meu corpo não está habituado. Também, a maior parte das vezes, estive a suspirar pela inacreditável paisagem que pairava à minha volta o que esgotava mais rapidamente a minha capacidade pulmonar.

O lago lá em baixo, azul glaciar, o contraste com o céu escancarado de azul, as montanhas desenhadas em photoshop. Não há palavras.

A diversão nos Alpes

E depois, as descaradas vacas que atacavam o almoço dos caminhantes. Foi o acontecimento do dia. Aquela visão das vacas Milka, de sinos pendurados ao pescoço, a darem sinais do apetite pelo nosso almoço, sacaram-me uma gargalhada surreal. Até que, momentos mais tarde, quando já estávamos a terminar o intervalo de almoço – o ideal é levar mochila com comida leve, nutritiva, e água – uma grávida que ali passava decidiu aproximar-se de uma delas. Que fiquem tão incrédulos quanto eu, essa mesma vaca lambeu a barriga da grávida numa gentileza só vista. Resumindo, andámos de um pico da montanha para o outro e ainda tivemos tempo de socializar com animais, descobrir que o meu alemão é fluente com a altitude, que sou uma formiga neste mundo e muito grata por tudo que tenho direito a experimentar.

Uma vaca Milka nos Alpes

O hiking é desafiante porque nos obriga a caminhar por lugares de difícil acesso, a controlar a respiração, a falar menos e andar mais atentos com todos os sentidos. As pernas doem muito, alongamentos são essenciais, as descidas são muito mais difíceis do que as subidas, travar constantemente é um exercício exigente.

Depois disto tudo, fica a vontade de subir mais alto.

Lombok, que a civilização demore a chegar

Enquanto Bali foi um ponto de encontro espiritual, Lombok foi a descoberta de paisagens virgens por explorar. De baías azuis turquesas, passeios de mota entre arrozais e altivas palmeiras, e com surf garantido para os mais experientes, esta é a Indonésia que se quer viver no seu estado mais puro.

Esta minha viagem à Indonésia ficou dividia entre as ilhas de Bali e Lombok. Após uns dias por Uluwatu e a aproveitar a boa vibe desta parte da ilha, fui até Kuta, Lombok. Surpreendeu-me a simpatia dos locais, de lhes ver na alma a boa vontade, a harmonia, o querer tratar bem os turistas tão preciosos nestes lugares remotos. É um claro sinal de prosperidade. Surgem os primeiros investimentos a uma escala maior, ainda que muito devagar, nota-se esta vontade de Lombok vingar enquanto destino de férias. Para já, Kuta ainda é uma vila para exploradores, aventureiros, pessoas que procurem por um refúgio da civilização ocidental. Contrasta aqui a Internet, curiosamente, em quase todos os espaços comerciais e de hospitalidade com a falta de água canalizada (diria que as prioridades estão trocadas).

O sossego em Kuta…

Tirando o zumbido constante das motas, consegui em Kuta descansar e desconectar do mundo. Aproveitei conhecer o espaço Mana onde experimentei yoga para surfistas. De longe, para mim, o lugar com mais mística e envolvência para se ficar. Tenho saudades de me sentar no Milk Expresso & Spa de capuccino na mão e a escrever no meu caderno de viagens, de olhos postos na passarela de lambretas rápidas e gente gira a rodopiar (volto a frisar isto, na Indonésia vê-se de facto pessoas mesmo giras, talvez por andarem todas descontraídas, mas é mesmo tudo giro). Quem lá for ao Milk Expresso, recomendo vivamente os pequenos-almoços sejam os ovos com abacate ou os batidos e sumos naturais, e depois aproveitar para fazer uma massagem ao estilo sueco, super relaxante, o melhor que fiz para descomplicar os músculos doridos do surf.

…e nas praias também

Mawi

Tirando duas artérias que atravessam Kuta, o resto da vila bem como os caminhos para as praias são de puro sossego. Aliás quem até aqui viaja sabe que vai atrás da falta de civilização como a conhecemos. Se por um lado temos Kuta de Bali que se assemelha ao nosso Algarve de agosto (no sentido que está cheio de turistas e só se vive para eles), Kuta de Lombok está a romper devagar naquela baía. E ainda bem que assim é. De mota exploram-se os caminhos até se descobrir as praias: Mawi, Are Guling, Tanjung Aan, Selong Belanak. O que têm em comum? Águas cristalinas quentes, areias macias de coral, águas de coco e poucas pessoas (a mais preenchida era Selong Belanak com aulas de surf, pequenos bares de praia em bamboo, cadeiras e chapéus de sol para se passar o dia). São na maioria praias por desbravar, simples, puras, onde os surfistas tentam a sorte naquele mar pouco conhecido. Apenas lamento os plásticos espalhados por toda a parte, que na verdade são um problema por toda a Indonésia.

O surf em Lombok

Gerupuk

Tal como em Bali, o surf não foi fácil para mim. Acho que ficou a faltar um guia local, um professor de surf para me orientar a explorar as praias certas. Tive vontade de entrar em Mawi, mas a onda impôs respeito. Vi os surfistas a remar muito, a tentar contornar a força das correntes do agueiro e isso comprometeu a minha vontade em experimentar. Felizmente fui abençoada em Gerupuk. Marcamos ponto de encontro as 6 da manhã na receção do hotel. Seguimos viagem num caminho de altos e baixos, pranchas penduradas, muita ansiedade por aquilo que nos esperava. À entrada de Gerupuk os locais aguardavam-nos com os barcos prontos para nos navegar até ao primeiro pico, Don-Don, que funciona tanto à esquerda como à direita e apenas quando o mar está maior. Atirei-me do barco, remei, remei, remei. Espreito por cima do ombro direito e vejo a onda a formar, a sorrir para mim. Vinha de facto na minha direção, deixei-me de coisas, e fiz-me à onda. Uau… Lisa, intensa, interminável (remar de volta para o pico foi a segunda parte do desafio, acho que nunca remei tanto quanto nestas férias). Não me irei esquecer da sensação daquela onda. De longe a melhor experiência de surf que já tive, parecia não acabar. Correu tão bem que no segundo dia repeti, mas mais adiante nesta baía de Gerupuk, no pico chamado Inside. Aqui forma uma direita consistente sob fundo de recife. Apanhei mais crowd, mas a simpatia dos locais e confesso, dos surfistas nipónicos (uma agradável surpresa dentro de água), fez tudo fluir. Fica a dica: vale sempre a pena acordar de madrugada. Ver nascer o dia e surfar ao mesmo tempo fez daquele lugar o meu templo do surf.

O lado trendy de Kuta

Há uma liberdade subjacente nestes lugares distantes no mundo (ou do mundo?). Talvez seja por isso que alguns europeus arrisquem deixar para trás a sociedade ocidental e aqui persistirem. Para quem um dia passar por Kuta, El Bazar e Krnk são dois restaurantes com muita boa onda e comida também. Pertencem ao mesmo proprietário e que tem consigo aquela história que tanto queremos ter. A pessoa que abandonou uma carreira internacional das nove às seis na Holanda para descobrir um futuro mais simples em Kuta. Quando lá cheguei ainda estava a sofrer de Bali Belly (não me livrei disso) e felizmente encontrei nestes lugares o conforto de pratos menos adocicados ou picantes e uma boa dose de kombucha para me ajudar a recuperar. O jantar começa cedo e a noite também, é que logo a seguir vamos ter festa num dos bares de praia (há uma festa por noite, todas as noites). Música ao vivo, venda de cogumelos com fartura, Bitangs, miúdas de chinelos e calções, surfistas arranhados pelo fundo coral. Neste misto de culturas conhecemos pessoas de todo o lado, num tempo parado do tempo propenso às conversas soltas pela noite.

Bali: viagem ao meu horizonte

Estou de volta, mas com a alma em Bali. Um lugar tão espiritual quanto pensei ser, emana uma energia tão positiva que só dá vontade de lá voltar, de lá ficar. Uma viagem fisicamente longa, uma viagem tão próxima ao meu horizonte.

Tudo é viagem, tudo é experiência. Sabia que ia custar passar tantas horas nos aviões, demasiadas escalas e tempo morto, mas faz parte da aventura. Assim que saí do avião, mergulhei nos aromas de Bali: em todo o lado o incenso arde. A pele ficou humedecida, o cabelo descontrolado, um cansaço feliz por poisar os pés em terra firme após 25h de viagem. Não vi grande paisagem à chega, a noite cerrada escondeu os primeiros encantos da ilha dos deuses. Mas fui abençoada ao acordar com o som da chuva tropical, pássaros exóticos, macacos saltitantes e uma piscina serena virada a nascente. Ali senti uma paz imensa, meditei, pratiquei yoga. Seguiram-se dias de procura de praias e ondas que se coadunassem com o meu nível.

O surf em Bali

Não é fácil surfar em Bali quando não se tem grande experiência. As ondas são perfeitas, mágicas, mas o fundo coral na maioria dos lugares impõe respeito à falta de destreza. Apanhei a primeira onda ao fim de dois dias em Padang Padang. Com a maré cheia, lá remei e fui. Senti as ondas mais lisas, mais demoradas a desenrolar. Deu-me tempo e oportunidade para cortar logo a onda e ir, quase eternamente no pensamento, a surfar. Ainda tenho em mim essa sensação. De frente para a costa, uma falésia de palmeiras, rocha vulcânica, comerciantes locais com saris e bonés para todos os gostos.

O lado boémio de Bali

Estive por Uluwatu. A meu ver, uma área cool e boémia. Resume-se a pessoas bonitas vindas de todo o mundo, a um povo a querer vingar na vida através do turismo, a refeições com muitos alimentos orgânicos, pratos adocicados como mie goreng ou gado-gado, cheia de vegetais, óleo de coco e amendoim. Batidos e sumos naturais em toda a parte, água de coco (quente, nunca fresca), mas que ainda assim sabe maravilhosamente. Ficam cravados no palato os pequenos-almoços no Bukit Café, aquele bagel com abacate e ovos mexidos escoltados pelo sumo de papaia ou as panquecas de banana divinais (cresce água na boca só de me recordar).

É tão fácil falar com estranhos em Bali. Dás por ti com uma disponibilidade incrível em querer conhecer pessoas, falar, trocar experiências, contemplar o por do sol de Bintang na mão… Surfistas giros, naquele registo hippie chic sofisticado, tatuagens, bronze dourado, cabelos loiros, livres pelo asfalto nas aceleras e pranchas penduradas. O ponto de encontro era sempre no Single Fin ou nas festas nas praias. É um lugar para celebrar a vida, livremente, descomprometidos.

A magia hindu

A religião será sempre um ponto de referência para a forma de vida de um povo. Diz muito sobre hábitos, valores, comportamentos e em Bali, isso não e diferente. Maioritariamente hindus, ao contrário do resto da Indonésia que é muçulmana, a diversidade deles começa inclusivamente no seu hinduísmo que difere do da Índia, e talvez a justificação seja a mistura religiosa que ali se sente. Tanto vemos biquinis reduzidos na praia como mulheres em burkinis. Há pelo meio budistas, católicos, protestantes e outros tantos que têm o seu deus. Mas em Bali tudo flui, naturalmente, como as densas chuvas tropicais. Indicado para retiros, solteiros, pessoas que procurem um sossego interior ou que queiram amor solto nos fins de tarde de engate. Aquilo do Comer, Amar e Orar é tão verdade e pode ser encontrado apenas em Bali (não precisamos de passar por outras paragens).

A inevitabilidade do por do sol

Vi o nascer do dia algumas vezes, andei sempre desorientada com o fuso horário, mas nada substitui o por do sol. Ali tudo funciona ao contrário, a condução por influencia, quiçá, britânica (foi durante algum tempo colónia deles) ou dos países mais próximos como a Austrália, a Lua fica cheia na horizontal, o sol põe-se quando aqui o dia nasce. Nesta equação, estar sentada a beira-mar em Bingin, a ver surfistas a rasgar ondas na vertical como nunca vi, onde o sol se deita devagarinho no pano de fundo, naquele calor húmido… faz-me viajar de volta e a equacionar como um lugar no mundo pode dizer tanto sobre a nossa personalidade.

Um dia pego na mochila e vou conhecer o mundo

Sempre tive esta certeza: as viagens transformam. O facto de nos ausentarmos da nossa zona de conforto, da nossa vida rotineira, dos que nos são próximos, faz com que nos tenhamos de adaptar e descobrir mais sobre nós.

Vou finalmente, depois de um interregno, pegar na mochila e conhecer o mundo. Vou atravessar continentes para na verdade fazer uma viagem de autodescoberta, de perceber até que ponto sou feliz, de por em perspetiva tudo o que tenho e faço, aquilo que quero para o meu futuro, por que esta ausência da minha realidade, vai-me ajudar a redirecionar o meu foco.

Vou conhecer o meu mundo do surf, do yoga, da minha espiritualidade. Quero dizer vezes sem conta namaste; quero rodopiar no mar com sorriso largo na face, permitir-me a lidar com uma nova cultura, e ser redondamente grata por esta oportunidade.

Que venham daí as boas energias. Espero conseguir colocar em palavras a minha experiência, partilhá-la. Prometo deixar-vos com pequenas reportagens no Instagram. From Bali with love  ♥

É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem saber ver.

 

Quando a vida te tira o telemóvel, faz ligações

 

De certa maneira arrependo-me de não ter anotado tudo o que sentia à medida que me ia entregando à experiência de ficar (no) Offline Portugal. Quando vi as notícias sobre a guest house da Bárbara e da Rita, pensei para os meus botões, as minhas férias vão ser ali e por estas razões: o destino é a Arrifana, é a minha primeira surf trip e viagem solo. Depois, e a melhor de todas, preciso de me desligar. Assim foi. Enfiei a prancha no Smart, o kit do surf, a mala com excesso de roupa (tenho de aprender a viver com menos bens) e alguma comida essencial à minha vida saudável. Fui nas calmas pela costa fora sem saber muito bem como me ia portar sem o iPhone por perto. Como é que vou ver as horas? Como é que vou encontrar a minha irmã? E se me perder no caminho para as praias será que sei usar mapa de papel? Ah, e a lanterna…? É que dá mesmo jeito… OMG, no que é que me vou meter?

Assim que cheguei a Bárbara instalou-me, fez-me a tour pela casa e apresentou-me a todos os outros hóspedes e equipa. Depois, a Rita, implacável diz “Susana, ainda não deste o teu telemóvel” (ups, estava a fazer-me de esquecida, mas não lhes escapa nada). Lá entreguei, modo avião porque não sabia o pin do cartão, e pronto ficou fechado a cadeado. E agora? O mundo acabou.

Só que não.

Não ter um iPhone é perfeitamente suportável. Aliás, é libertador. Não saber de ninguém é, e não me considerem egoísta, uma lufada de ar fresco. Trata-se essencialmente de conseguirmos ouvir a nossa voz, a nossa paz interior, darmos tempo a nós próprios. Eu fui sozinha, e para quem quiser vibrar com dias de comunhão consigo próprio, deve fazê-lo sem companhia. Há algo garantido naquele lar: as anfitriãs nunca nos abandonam. Envolvem-nos, fazem-nos sentar à mesa ao pequeno-almoço dizer o bom dia olhos nos olhos, mergulham-nos com elas no mar, nas aulas de yoga, nas fogueiras e sunsets do verão, nos passeios pelas praias na van do Surf. Falamos inglês, falamos francês mesmo que não saibamos, falamos a língua universal da harmonia. Há espaço para exploradores do mundo, jornalistas de Lisboa, consultoras de Braga, marketeers da Hungria, surfistas apaixonadas pela região. Há acima de tudo pessoas disponíveis, sem compromissos, sem horas marcadas, sempre sorridentes e prontas a partilhar dias cheios de ligações.

Estive desligada cinco noites, que passaram a seis, sete… Os que eu quis desligar. Tenho em mim a consequência de querer ficar assim mais offline do telemóvel. É desnecessária esta dependência que a sociedade criou. Foi um regressar ao básico das relações humanas, sem receio dos momentos de silêncio – quantos de nós pegamos no telemóvel nessas alturas a fingir que estamos ocupados – que até se transformam em momentos de ligação com estranhos e em oportunidades de criar novas amizades.

Além disso, estes dias de tranquilidade, ausência de notícias e leituras virtuais fizeram-me ler mais livros, e como Fénix das cinzas renasceu em mim o sonho de escrever um livro. Como sei que coisas boas acontecem quando menos esperamos, sei que tudo o que vida tiver de bom para me dar, dará. Tal como me deu estes dias maravilhosos na casa da Rita e da Bárbara à qual vou voltar e sempre apadrinhar.

Portanto, quando a vida nos tirar o telemóvel, o melhor é ficar Offline Portugal.

Mais ligação que isto, impossível.

PS: a experiência corre tão bem que não tirei uma única fotografia com o telemóvel para publicar neste texto… Direitos de imagem Offline Portugal.

Offline Portugal: desliga-te para te ligares

Ando à procura de um lugar para ir de férias e não quero um sítio qualquer. Tem de envolver certas características como praia, surf, yoga e pessoas. E nisto descubro a Offline Portugal.

Aqui incentivam-te a desligares do mundo; fecham-te o telemóvel num cacifo e não têm internet, com um único objetivo, ligares-te às pessoas. Radical demais? Talvez seja para algumas pessoas, mas é uma questão de aprendermos a conviver.

Nesta casa de amigos sem internet, em Vale da Telha, Aljezur, há espaço para 15 pessoas desligadas (tem quartos duplos e dormitórios com beliches) com a possibilidade de se ligarem nas mini sunset parties e churrascadas à volta da piscina. Soa-me tão a verão… Chega depressa junho!

Para os que sofrem muito com a ausência do telemóvel, organizam por lá aulas de surf e yoga para compensar. Tudo isto, perto do paraíso da Arrifana.

Precisamos de mais argumentos? Estou mais do que pronta a desligar na Offline Portugal. Quem alinha?