Quando me meti nisto do surf, sabia que era uma relação para a vida, e com tudo o que isso possa implicar. Um amor para a vida com altos e baixos.
Nada é linear desde as ondas do mar ao nosso estado de espírito. Há vontades nossas e a vontade do mar. Não senti que seria uma devoção, mas algo que completasse os meus dias e os cinquenta tons de azuis aos meus olhos verdes.
Aceitei desde início este vai e vem. Momentos em que não sei estar sem ser dentro de água e depois, momentos em que não me apetece. Simplesmente não me apetece. Não deixo de ser surfista por isso. Mas hoje em conversa, disseram-me algo que me fez olhar para dentro e ouvir a razão de amar assim o surf. Nesta conexão e neste desligar. “De todas as pessoas que conheço é a que mais falas sobre o surf, e depois não vais“. Verdade, hibernei. Cá dentro e para longe das ondas. Até voltar a retomar o ritmo e o amor ao mar. Mais alguém tem uma relação assim?
Ao avaliar o cá dentro não há nada em mim entorpecido ou problemático. Sinto que o mar acalmou, como naqueles longos dias secos de verão em que nada o faz mexer. Mas devolve um sossego contagiante que me faz contemplar. Por isso, concluo. Eu cheguei a uma calma e certeza da vida que prefiro neste momento parar, observar e absorver. Sentir esta energia simples de que é ter a capacidade de fazer tudo, mas já não precisar de fazer absolutamente nada para estar em sintonia com a natureza. Mais alguém tem uma relação assim?
E, pergunto também, não serão todas as relações, por natureza, assim? O que vejo de bom nisto é a constância de saber o meu lugar no mar. Seja na crista da onda ou na reboleira da espuma.