O swell tem estado pequeno, ondas coca-colinha. As algas aparecem, dando um odor mais intenso ao mar. A luz do sol tem beijado a superfície. Ainda assim, vejo o fundo com clareza. O surf é a minha terapia.
O meu sorriso rasgado vem lá da alma. Eu tenho caído nas espumas, divertida, criança feliz. No mar, eu esqueço. Estou apenas ali presente com esta minha alegria infantil, se quiserem, mas vivo intensamente naquele lugar. Poucos vão entender este meu amor pelo profundo azul. Mas eu não tenho receio em assumir nada do que penso ou sinto. Para se ser grande, sê Inteiro, já dizia Pessoa. Ali sou eu. Inteira, despreocupada, presente, feliz. Se eu pudesse, juro que seria sereia para nunca sair do mar. O único lugar no mundo que me faz colocar tudo em perspectiva, entender que a vida traz ondas, de todos os tamanhos e intensidades. Todas elas passageiras. Tanto aprendo a apanhar as ondas como a cair com elas, a deixá-las passar, a ficar submersa, a ter de regressar à tona, a apanhá-las. Há dias em que as ondas não vão surgir. Há dias em que vão ser tão grandes que não vou ter coragem de ir. Seja como for, é a minha terapia. Tudo isto faz-me perceber que a vida é mesmo assim. Um dia vou estar bem, completa. Noutro dia, cabisbaixa, incerta. Um dia disponível a aceitar, noutro a lutar por aquilo que acredito. O que importa, é que em todos estes momentos, sou inteira. Nunca esquecer quem sou e para onde vou. Nunca me diminuir ou sentir inferior por não surfar (e viver) ao mesmo nível que os outros. Saber o meu valor, e aceitar que o mar, tal como a vida, traz e leva. Traz o que precisas, leva o que não interessa.
Por isso, quando a vida perde encanto ou balanço, eu atiro-me ao mar. Sei que vou estar presente naquele momento, e nada mais importa. Aprendi a viver assim e descobri a minha verdadeira essência. Já não sei estar de outra forma. Cheia de swell, cheia de emoções. Banhada em sal, conservo em mim essas boas energias ad eternum. Eu tento colocar em palavras a forma como me sinto no mar e o que me transmite. Só que não lhe fazem justiça. Talvez se entrares no mar, se me encontrares por lá, vais finalmente perceber este meu amor pelo mar e porque me faz tão bem.
Espero-te na meia maré.