Ainda no fim-de-semana estávamos no mar. Três aprendizes com uma imensa vontade em apenas apanhar ondas. E ali estávamos a observar o comportamento da onda, onde forma, onde quebra e às tantas chega o set e cai sobre nós. Às vezes temos tempo para mergulhar, fazer o duck dive, outras só da tempo para nos afastar da prancha e mergulhar, outras ainda, não sabemos o que fazer e lá somos atropelados pela massa de água, embrulhados durante uns metros sem saber quando voltamos a respirar. Daí o ar de pânico perante o set. Nunca sabemos o que nos vai acontecer nos instantes a seguir (mas sabemos na vida o instante a seguir?).
Pergunto-me “vou-me aguentar debaixo de água? Isto vai parar de me enrolar?”. O medo é latente. Entre aquele set, que nos fez deambular perdidos no mar, salta-nos a pergunta – mas vocês têm medo de quê? De morrer? Deu-me para sorrir meio nervosa, se calhar até tenho, pensei. Uma de nós respondeu: não é de morrer, é de sofrer. Fiquei a remoer a questão do medo. O medo do mar. O medo ao mar.
E o que tememos ali no mar, o não voltar à superfície? O não voltar a respirar? Pensa-se sempre nessa possibilidade. É inevitável. Só que este medo faz-nos respeitar os nossos limites; faz-nos respeitar o mar. Queremos sempre superar. No fundo – que é exatamente onde não queremos ficar – aprendemos a voltar à tona, a aguentar debaixo de água, a controlar a mente para nos manter calmos. O mais engraçado é saber que neste mesmo lugar, onde sentimos este pânico de sofrer, descobrimos uma emoção tão superior a nós, tão genuína: a vontade de viver, de respirar. Por maiores que sejam os receios na nossa vida, ali, entre ondas que tombam rápidas entre si, tudo se esquece excepto esta simples vontade de respirar à superfície.
Este medo ao mar faz-nos bem. Tornamo-nos mais conscientes, mais atentos à vida. Há que usar o medo em nosso favor para nos ajudar a crescer, a evoluir e deixar que nos revele quão capazes somos.
Para quem ainda não está convencido, deixo sugestões para ajudar a superar este medo, em especial para quem anda a aprender a surfar.
1. Aprende a suster a respiração com calma. Tenta fazer piscinas debaixo de água.
2. Aprende a ler o mar. As correntes, as ondas, as marés. Quanto mais souberes, mais fácil será antecipares os teus movimentos no surf.
3. Evita mar maior. Experimenta surfar em dias de mar mesmo pequeno. Conquista confiança, onda a onda.
4. Vai surfar sempre com amigos, e de preferência quem perceba o teu medo e te ajude a ganhar confiança.
5. Interpreta o teu medo. É apenas receio, nervos miudinhos ou um pânico intenso? Se for a última opção, enquanto não superares o receio, não vás surfar.
6. Estás com medo? Sorri e lembra-te que o surf é para te divertires.