Piso a areia ainda humedecida pela noite. Os grãos chegam-se a desenhar cinzentos pela praia fora. Vislumbro a espuma branca; com ela viaja a fragrância agridoce da maresia. Neste momento, composto de tudo e nadas, puxo o fato para cima – sinto aquele nervo miúdo a romper pela minha espinha como um ligeiro formigueiro que sobe e aquece a alma. É a antecipação de me entregar ao mar.
Entro em vagar. Pé ante pé. Levemente deixo-me ser beijada pela água cintilante da madrugada. São seis da manhã. A prancha segue ao meu lado. É uma sensação plena, onde me sinto completa. A comunhão de todos os meus melhores e piores sentimentos que ali fluem. Diluem. Por mar adentro.
Passo a primeira rebentação, prancha para o fundo do mar e com ela, o meu corpo trémulo de ansiedade, deixa-se afundar. Lava-me a alma. Ao vir ao de cima, sorrio. Um raio de sol tímido arrasta-se nas calmas pelo imenso azul. Chega-se a mim sem pudor, ilumina-me os bancos de areia por debaixo dos meus pés. Vejo-lhe os segredos.
Sempre que entro no mar, dispo-me de preconceitos. Onda após onda. Em queda livre.
E gosto tanto.