Quando o outono chega, a luz torna-se mais intimista, os frutos caem e as folhas terminam o seu ciclo de vida. Devemos aceitar com naturalidade a mudança de estação e integrá-la na nossa vida. Só que nem sempre é fácil. Como o yoga nos pode ajudar nesta transição?
Somos parte da natureza e com ela devemos fluir. Sempre gostei de sentir a mudança de estações, se bem que hoje em dia não sejam tão vincadas, eu mantenho-me consciente ao que acontece. Trata-se de adaptar o nosso corpo às transformações externas. Este ano, estranhamente, está-me a custar separar dos dias quentes, mas tenho de contrariar este feeling. Como? Vou adaptar a prática do yoga para o outono, para me ajudar a entrar mais serena no inverno.
Saudações ao sol. Com as temperaturas a cair, aquecer bem os músculos e as articulações antes de qualquer prática desportiva é essencial, incluíndo no yoga. Noto por mim, fico com as mãos e os pés frios, os músculos mais rígidos. Custa-me mais ter agilidade. Portanto, uma das soluções é integrar nas nossas manhãs e antes do exercício, seja ele qual for, as saudações ao sol. Como aquecem a região do core – abdominal (plexo solar na linguagem do yoga) – é excelente para ativar o nosso fogo, a nossa energia interna.
Contrariar a preguiça com posturas de extensão da coluna. Quem não sofre de ataques de preguicite aguda nesta altura? Precisamos por isso mesmo encontrar movimentos que estimulem o sistema nervoso central, que sejam os nossos despertadores energéticos. No meu livro de cabeceira do professor Hermógenes* encontrei duas posturas para nos energizar. São elas dhanurásana (pose do arco), que enriquece a personalidade, dando vivacidade à mente, e halásana (pose do arado). Nesta postura, o corpo ao assentar sobre a região cervical provoca uma onda de calor que se traduz numa intensa sensação de vida e energia (dá-nos agilidade mental e alivia-nos de um estado mais angustiante).
Abraçar o recolhimento do outono com posturas de flexão do tronco, que acalmam o ritmo cardíaco e baixam a pressão sanguínea. Ou seja, de dia fixamo-nos nas posturas de energia, à noite vamos sossegar a mente com a prática de pashimottanásana (pose da pinça), a postura conhecida por “a fonte da energia vital” pelos inúmeros benefícios que nos traz, incluindo o combate às insónias.
Meditar entre queda de folhas. Se as folhas caem e os frutos também não será por acaso; para mim trata-se de libertar o passado. Desapego. A minha ideia é simples: como deixar o passado cair em harmonia? Através da meditação. Ir até um parque ou jardim, colocar o meu tapete e através das técnicas da respiração – pranayama – acalmar a mente e começar a fechar o ciclo. O que passou, passou.
Viver o tempo da introspecção. Já que nos roubam a luz do dia, vamos aproveitar este tempo para reorganizar a nossa energia interior. Viver com mais calma, serenidade. Afinal é isso que a natureza se prepara para fazer. Talvez olhar para nós, para os nossos objetivos de vida e repensar no que queremos conquistar a todos os níveis e a melhor maneira de terminar o ano com vontade de vencer na próxima estação. A prática de Hatha Yoga ajuda tanto nisto, é só aproveitar as aulas e conseguir encontrar cá dentro as nossas respostas.
Acima de tudo, temos de encontrar formas de nos equilibrar em todas as fases da nossa vida. Se soubermos aproveitar as ordens da mãe natureza, integrá-las com a naturalidade com que os animais e as plantas o fazem, aposto que os resultados serão mais do que visíveis. Vamos estender o tapete?
Fonte: "Autoperfeição com Hatha Yoga", Prof. Hermógenes
Fonte: Yoga Journal