De certa maneira arrependo-me de não ter anotado tudo o que sentia à medida que me ia entregando à experiência de ficar (no) Offline Portugal. Quando vi as notícias sobre a guest house da Bárbara e da Rita, pensei para os meus botões, as minhas férias vão ser ali e por estas razões: o destino é a Arrifana, é a minha primeira surf trip e viagem solo. Depois, e a melhor de todas, preciso de me desligar. Assim foi. Enfiei a prancha no Smart, o kit do surf, a mala com excesso de roupa (tenho de aprender a viver com menos bens) e alguma comida essencial à minha vida saudável. Fui nas calmas pela costa fora sem saber muito bem como me ia portar sem o iPhone por perto. Como é que vou ver as horas? Como é que vou encontrar a minha irmã? E se me perder no caminho para as praias será que sei usar mapa de papel? Ah, e a lanterna…? É que dá mesmo jeito… OMG, no que é que me vou meter?
Assim que cheguei a Bárbara instalou-me, fez-me a tour pela casa e apresentou-me a todos os outros hóspedes e equipa. Depois, a Rita, implacável diz “Susana, ainda não deste o teu telemóvel” (ups, estava a fazer-me de esquecida, mas não lhes escapa nada). Lá entreguei, modo avião porque não sabia o pin do cartão, e pronto ficou fechado a cadeado. E agora? O mundo acabou.
Só que não.
Não ter um iPhone é perfeitamente suportável. Aliás, é libertador. Não saber de ninguém é, e não me considerem egoísta, uma lufada de ar fresco. Trata-se essencialmente de conseguirmos ouvir a nossa voz, a nossa paz interior, darmos tempo a nós próprios. Eu fui sozinha, e para quem quiser vibrar com dias de comunhão consigo próprio, deve fazê-lo sem companhia. Há algo garantido naquele lar: as anfitriãs nunca nos abandonam. Envolvem-nos, fazem-nos sentar à mesa ao pequeno-almoço dizer o bom dia olhos nos olhos, mergulham-nos com elas no mar, nas aulas de yoga, nas fogueiras e sunsets do verão, nos passeios pelas praias na van do Surf. Falamos inglês, falamos francês mesmo que não saibamos, falamos a língua universal da harmonia. Há espaço para exploradores do mundo, jornalistas de Lisboa, consultoras de Braga, marketeers da Hungria, surfistas apaixonadas pela região. Há acima de tudo pessoas disponíveis, sem compromissos, sem horas marcadas, sempre sorridentes e prontas a partilhar dias cheios de ligações.
Estive desligada cinco noites, que passaram a seis, sete… Os que eu quis desligar. Tenho em mim a consequência de querer ficar assim mais offline do telemóvel. É desnecessária esta dependência que a sociedade criou. Foi um regressar ao básico das relações humanas, sem receio dos momentos de silêncio – quantos de nós pegamos no telemóvel nessas alturas a fingir que estamos ocupados – que até se transformam em momentos de ligação com estranhos e em oportunidades de criar novas amizades.
Além disso, estes dias de tranquilidade, ausência de notícias e leituras virtuais fizeram-me ler mais livros, e como Fénix das cinzas renasceu em mim o sonho de escrever um livro. Como sei que coisas boas acontecem quando menos esperamos, sei que tudo o que vida tiver de bom para me dar, dará. Tal como me deu estes dias maravilhosos na casa da Rita e da Bárbara à qual vou voltar e sempre apadrinhar.
Portanto, quando a vida nos tirar o telemóvel, o melhor é ficar Offline Portugal.
Mais ligação que isto, impossível.
PS: a experiência corre tão bem que não tirei uma única fotografia com o telemóvel para publicar neste texto… Direitos de imagem Offline Portugal.
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