Domingo. Quase um mês depois consegui voltar ao mar. Acordei de manhã cedo e vi que o sol tinha regressado; deu-me a energia que precisava para ir à praia. Arrumei a tralha, fato, toalha, biquíni e uma garrafa de água na mochila e arranquei até Carcavelos. O mar estava bonito, pouca gente, e a luz maravilhosa deste país. Não hesitei muito em tirar a roupa, vestir o fato pegar na prancha e entrar no mar, no momento presente.
Só que neste domingo, aqui e agora, o meu corpo não correspondia à mente. A mente não correspondia ao corpo. Sentia uma desconexão tal que me refugiava no olhar para o horizonte à espera de força de vontade para contrariar a cabeça. Estou cansada. Não ando a treinar o suficiente para isto. O mar ganha sempre, sacana é forte. Não vale a pena tentar mais, já estou cansada. Agora vem a asma, posso sempre falar da asma, é uma desculpa credível. Devia ter ficado em casa.
Isto foi o que fiz durante 30 minutos. Ali no mar criei uma série de obstáculos para não apanhar ondas. Não me consegui vencer. Esta voz interior que me impede de viver o momento presente porque na vida passamos 80% do tempo a lamentar o passado e a sonhar com o futuro. Mas em momento algum lembramos que devemos sempre sentir o momento presente como o único tempo que realmente interessa.
Enquanto me destruía em pensamentos negativos, o corpo começou a ganhar ânimo. Levei aquela meia hora para encontrar o ritmo, força na remada, caixa torácica para me afundar com a prancha. Dei a volta a cabeça. Calma, estás sempre a lamentar que não tens tempo para o surf e agora que aqui estás só arranjas desculpas para não surfar. Quando puxei por mim, deixei de divagar. Quando dei o meu máximo consegui apanhar ondas – ainda que sem grande estilo porque sou continua aprendiz – foram as minhas ondas; foi o meu melhor para viver o momento.
Sai de lá cansada sim, mas feliz. Calei a voz interior. Apercebo-me agora quão difícil é silenciar a mente. Mas tudo se consegue. Há que saber viver o momento. Aqui e agora.