O final de ano nas montanhas estava marcado. Iríamos para Brienz, no cantão de Berna, Suíça e aproveitar a neve na estância Hasliberg. Já conhecia a montanha, celebrei a chegada dos meus 30 anos numa descida a trenó, de calças de ganga e cheia de estilo. Desta vez, e a fechar o ano com 33 anos, iria aprender snowboard.
As expectativas ao meu redor eram elevadas. “Já fazes surf, vais gostar de snowboard…”, “É muito parecido com o skate”. Eu não quis sabotar a realidade e fui gerindo os comentários atirando livremente um “vamos ver”. A verdade é que gostei. Odiei, mas gostei. Como explicar? A frustração de descer uma pista vermelha é pior do que um dia de mar grande em Carcavelos (pelo menos assim o senti). 80% do tempo estive em modo caranguejo, tartaruga (?) por ter eterna sensação que nunca iria conseguir travar. A minha irmã simplificou a aventura: snowboard é fácil porque na verdade podes ir sempre a travar. Isso. Podemos. Mas a parte em que as pernas já não respondem, sofremos de um ardor muscular capaz de despertar o Monte Agung em Bali? Ninguém me falou disso, apenas que o dia a seguir iria ter dores musculares, mas nada durante as descidas, rápidas e obviamente escorregadias.
O mais fácil era marcar uma primeira aula para aprender os básicos. Lá veio o Moritz, professor de snowboard na estância, no seu fato vermelho e azul, cantando num inglês germânico que o surf na costa portuguesa é muito bom. Mandou-me subir pela corda que me puxou até ao topo da colina, e com um sol a bater de frente, disse-me para me levantar e deixar que o olhar, os ombros, o tronco, me dissessem para onde queria ir. Assim o fiz e levei demasiado a sério o sentido da direcção porque acabava por mergulhar na “tiefschnee”, neve profunda, fofa, tipo nuvem. Claro que não vou mencionar a complexidade de sair dali com a prancha presa aos pés. Nada gracioso.
Desci de frente, peso nos calcanhares, aprendi a dar a volta, descer de costas, peso na ponta dos pés. Até aqui tudo tranquilo. O que é altamente frustrante nestes primeiros instantes de snowboard é a incapacidade de cair sem magoar: os pulos, os ombros, os joelhos, especialmente, o coxis. É que por baixo da neve que pulverizamos com a prancha, há gelo.
Os primeiros dias de surf são mais fáceis porque cair não é tão doloroso, ainda que haja a mesma frustração de não fazer nada bem à primeira, ou à segunda. Contudo, confesso que ficou com o bichinho de voltar a experimentar snowboard com menos quedas e mais free style.
No meio deste processo todo, bateram as 12 badaladas de 2018. E gravou-se no subconsciente o mote para sobreviver ao novo ano:
cai sete vezes, levanta-te oito